O Grupo de Trabalho Empresariado e Ditadura no Brasil (GTEDB) é um coletivo que reúne pesquisadoras e pesquisadores de todo o Brasil e do exterior que se debruçam sobre a questão da atuação empresarial no regime ditatorial brasileiro inaugurado com o golpe de 1964. Formado em 2017, ele se apoia em dois grupos de pesquisa cadastrados no CNPq.
A formação da Comissão Nacional da Verdade (CNV) no Brasil em 2011 gerou uma grande mobilização da sociedade civil, com bastante agitação inclusive em meios acadêmicos acerca dos possíveis desdobramentos do processo. Por mais que houvesse, naquele momento, críticas em relação aos limites impostos aos trabalhos da comissão, realizadas por organizações como o Grupo Tortura Nunca Mais, a formação da comissão foi entendida por alguns como uma oportunidade para poder colocar publicamente problemas que antes não dispunham de enfrentamento no debate nacional e não gozavam de tanta centralidade nos estudos acadêmicos.
Assim, foi formado em 2013 no Rio de Janeiro o Coletivo Mais Verdade, a partir da aproximação de pesquisadores, professores universitários e militantes interessados em avançar nos estudos e na problematização da participação dos empresários na ditadura brasileira, com a intenção de que os trabalhos da CNV e comissões congêneres abrangessem esse aspecto do regime de exceção implantado no país em 1964. O grupo reunia pouco mais de uma dezena de pessoas que se reuniam periodicamente na sede do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ). Faziam parte do grupo, dentre outras pessoas, Renato Lemos, Luiz Mario Benkhen, Elaine Bortone, Rejane Hoeveler, Demian Bezerra de Melo, Carlos Tautz, João Roberto Lopes Pinto, Pedro Campos, Rafael Brandão, Virginia Fontes, dentre outros. O grupo foi responsável pela organização de alguns eventos, cursos e culminou com o auxílio na preparação de um trecho do volume II do relatório da Comissão Nacional da Verdade. Além disso, vários dos seus integrantes colaboraram com atividades e relatórios da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-Rio) e das comissões do município e estado de São Paulo.
Após o fim dos trabalhos da CNV e da CEV-Rio, o grupo se desmobilizou. Porém, alguns de seus integrantes formaram um novo coletivo intitulado Grupo de Trabalho Empresariado e Ditadura no Brasil (GTEDB), formado no início do segundo semestre de 2017. De perfil mais acadêmico, o grupo reúne algumas dezenas de pesquisadores/as ligados a universidades e instituições de ensino que se dedicam ao estudo da atuação do empresariado na ditadura brasileira, problematizando aspectos como ações desses agentes no golpe de 1964, formas de organização do empresariado, ações junto ao aparelho de Estado, intelectuais orgânicos dessa fração social, participação desses agentes em órgãos governamentais durante a ditadura, políticas estatais aplicadas no período, formas de favorecimento desses agentes naquele período por políticas e medidas aplicadas, bem como a sua implicação na repressão a trabalhadores/as e militantes políticos durante o regime. O grupo de trabalho é uma iniciativa conjunta de dois grupos de pesquisas, a saber: o Laboratório de Estudos sobre os Militares na Política da UFRJ (Lemp), coordenado por Renato Lemos, e o Laboratório de Economia e História da UFRRJ (Lehi), coordenado por Rafael Brandão e Pedro Campos.
O grupo realiza reuniões mensais no CPDA-UFRRJ ou no IH-UFRJ, em que discute as ações do GT e discute textos sobre o tema do empresariado na ditadura brasileira e em outros regimes de exceção no Cone Sul. Em 2018, o GTEDB organizou o Seminário Nacional Empresariado e Ditadura no Brasil, ocorrido entre os dias 1º e 4 de outubro, tendo lugar em diferentes espaços: UFRJ, FGV, UFRRJ e Uerj-FFP, cada dia em uma instituição. Foi um evento de bom porte organizado na forma de mesas redondas, com apresentações e debates sobre questões específicas acerca da temática do empresariado e da ditadura no Brasil. O objetivo era tentar consolidar e avançar esse campo de estudos, atentando para a importância da ação empresarial para a compreensão da ditadura brasileira e também para reforçar o entendimento do grupo de que o regime inaugurado em 1964 detinha um claro perfil de classe, sendo favorável ao empresariado e diretamente constituído por integrantes dessa classe social.